Abuso de tecnologia médica mata e dá prejuízo, mas tem solução

 Abuso de tecnologia médica mata e dá prejuízo, mas tem solução

A máxima de que a diferença entre remédio e veneno é a dose também vale para o uso de tecnologias da Saúde. Seus efeitos adversos diretos para o paciente ou indiretos pela inanição financeira do sistema de Saúde em decorrência de seu uso indiscriminado tem causado grandes prejuízos socioeconômicos. Neste contexto se inclui tecnologias de diagnóstico, cirúrgicas, de tratamento, de reabilitação e de informação.

O problema fica evidente quando o Dr. Claudio Lottenberg cita que nos EUA o abuso da tecnologia já é a terceira maior causa de mortes o que configura um grave quadro de iatrogenia que já é responsável por 30% dos custos da Saúde . Fácil supor que os números do Brasil não sejam melhores o que ajuda a explicar nossa alta inflação médica, logo boas práticas que minimizem essa problemática devem ser objeto de atenção e de ação imediata.

“Quando existe dano ao paciente em decorrência do atendimento médico se tem uma iatrogenia. Todo profissional possui um potencial iatrogênico, e tal aspecto depende não somente da capacidade técnica, como também da relação médico-paciente estabelecida. A formação médica possui papel fundamental na constituição de sujeitos menos propensos a cometerem iatrogenias.” (Tavares, 2007)
Mas como mitigar o abuso de tecnologias na Saúde? Embora NÃO exista “bala de prata” a melhor resposta é usando a própria tecnologia! Sim, se deveria utilizar tecnologia massivamente, especificamente software, para disseminar e gerir a adoção das boas práticas que remetam ao uso racional das tecnologias ao mesmo tempo em que promovam diagnósticos precoces. Para isso existem softwares para educação médica continuada em larga escala, para levantamento de suspeitas diagnósticas, para discussão de casos, para apoio cirúrgico e tratamento, assim como para a gestão técnica de equipes médicas.

A mudança em favor da racionalidade do uso de tecnologias passa obrigatoriamente pelo Governo e pelas Operadoras de Saúde, afinal compete a estes agentes a proposição e a sustentação de modelos de atenção economicamente viáveis e boa notícia é que eles não estão parados. Já temos vários casos de sucesso, o que falta é que a Saúde como um todo se inspire nestes casos pontuais para escalarem seus modelos para as demais especialidades. A título de exemplos temos o no setor público o sucesso do programa de incentivo ao parto normal em detrimento do parto cesariano do Ministério da Saúde e na iniciativa privada temos a Bradesco Saúde que começa a colher resultados econômicos com a atenção básica.

O noticiário de TV em plena noite de natal, o que reforça a importância social do tema, demonstrou que as operadoras estão investindo em Atenção Básica de Saúde como forma de evitar internações e consequentemente evitar possíveis abusos de tecnologias e seus custos inerentes. A matéria cita especificamente a Bradesco Saúde que está investindo na criação clínicas de atenção básica em todo o Brasil. Também foi citado o caso de Florianópolis que tem 75% do seu corpo clínico especializado em Saúde da Família que por sua vez pratica a atenção básica diretamente na residência dos pacientes. Independente da abordagem, fica claro que há resultados positivos na medida em que há a redução de custos em relação ao modelo prevalente pautado em consultas com vários especialistas intercaladas a visitas aos prontos-socorros.

Interessante destacar que é ínfimo o número de médicos especializados em Saúde da Família no Brasil, pouco mais de 5 mil, e estimular clínicas, hospitais e as próprias operadoras a também adotarem as boas práticas da Saúde da Família é um desafio técnico e especialmente econômico. De todo modo há soluções que passam, por exemplo, pela remuneração baseada em resolutividade (Medicina Baseada em Valor) e pela adoção de protocolos da Medicina Baseada em Evidências padronizados e devidamente gerenciados.

Para a padronização das melhores práticas por uma operadora ou pelo Governo seria preciso que eles definissem um bom acervo de protocolos, treinassem seus médicos e gerissem a aplicação desses protocolos. Outro desafio seria sensibilizar médicos, hospitais e clínicas a adotarem os protocolos e neste ponto a remuneração baseada em resolutividade é uma opção. Não é uma tarefa fácil, mas é possível. Há casos de sucesso tanto nos EUA, quanto o Brasil.

O Johns Hopkins Hospital corrobora a problemática dos crescentes custos da Saúde mundial em uma infinidade de artigos, assim como atribui grande parte desses custos ao burnout da equipe médica que hoje chega a perder 70% do seu tempo com burocracia . Com diagnóstico claro, o Johns Hopkins Hospital partiu para a ação e adotou um software da empresa Nuance. Segundo portal Healthcare IT News, os resultados foram extraordinários ao ponto de muitos médicos relatarem terem redescoberto seu amor pela medicina, amor que inclui dar a devida atenção ao paciente em detrimento da burocracia. Equipes motivadas também motivaram pacientes a aderirem aos tratamentos e promoveram a redução de custos da operação. O software que eles utilizaram foi uma espécie de chatbot com reconhecimento de voz no qual os médicos ditam o atendimento.

Johns Hopkins Hospital in Baltimore, EUA

“A carga da documentação é um dos principais contribuintes para o esgotamento do médico, uma vez que os profissionais se sentem sobrecarregados com a quantidade de informação que precisam para digitar nos Prontuários Eletrônicos” (Healthcare IT News, 2018)

No Brasil, assim como nos EUA, os prontuários não reduzem a burocracia, mas existem alternativas . Cito dois hospitais especializados em oftalmologia, o CBCO de Goiânia e o CBV de Brasília, que investiram na Mindify, um software para automação de protocolos com objetivo de padronizar e otimizar protocolos de atendimento da Medicina Baseada em Evidências. Segundo relato do patrocinador do projeto o Dr. Marcos Ávila, durante o Research Day da Universidade Federal de Goiás (UFG), a Mindify reduz significativamente a burocracia clínica na medida em que usa IA (Inteligência Artificial) para otimizar a interação dos médicos com o software, inclusive alguns dos oftalmologistas relataram que a interface baseada em cliques da Mindify é mais simples do que ditar (verbalizar) o atendimento. Na Mindify os protocolos são parametrizados segundo os interesses do contratante e neste contexto o CBV elegeu o Dr. Mauro Nishi como responsável técnico pela definição dos protocolos que estão sendo utilizados no hospital. Segundo Nishi os protocolos são capazes de padronizar os atendimentos com baixo custo na medida em que capacitam as equipes médicas de forma automatizada. O resultado é um ciclo virtuoso onde um software simples de usar capacita a equipe médica e promove a geração de dados clínicos do mundo real de alta qualidade que por sua vez são usados para gestão do uso os próprios protocolos, incluindo a gestão da resolutividade dos atendimentos.

Ainda na temática da redução da burocracia no Brasil há o caso de sucesso do Robô Laura, solução capaz de processar os dados dos monitores multiparamétricos disponíveis nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para alertar proativamente a equipe médica em caso da eminência da ocorrência de sepse. Segundo o Instituto Latino Americano de Sepse, atualmente a sepse é a principal causa de morte nas UTIs e uma das principais causas de mortalidade hospitalar tardia, superando o infarto do miocárdio e o câncer. O Robô Laura reduz mortes por ser capaz de identificar minúsculas variações nos sinais vitais indicativas da eminente entrada do paciente em estado de sepse. Neste contexto, o software reduz as chances de óbito ao mesmo tempo em que reduz a burocracia ao processar grandes quantidades de dados para evidenciar os casos que realmente precisam da atenção da equipe médica.

Já para integrar aos processos hospitalares softwares inovadores, como a Mindify e o Robô Laura, existem soluções de integração como a proposta pela Sollis Inovação que permite a troca bidirecional de informações médicas entre médicos, pacientes, farmácias, laboratórios, hospitais e clínicas. A Sollis seria um hub de integração de informações entre as inovações capazes de mitigar a problemática da Saúde aos tradicionais prontuários eletrônicos do mercado. Ou seja, operadoras de Saúde, hospitais, clínicas e até o SUS podem sim se beneficiar das inovações técnicas destinadas às equipes médicas sem impactar suas rotinas administrativas e contábeis.

“Dados de boa qualidade centrados no paciente são essenciais para a integralidade do atendimento que leva a diagnósticos precoces e a redução dos custos da Saúde” (Carlos Eli Ribeiro, especialista em Saúde Pública, CEO da Sollis)
Sim, a integração da Saúde é uma das principais soluções para o combate à inflação médica e a iatrogenia e, sim, existem inúmeras tecnologias já disponíveis para esse propósito que vão além da simples integração de dados, passando pela definição de processos e até pela educação médica continuada. Cabe agora às operadoras e aos hospitais e clínicas de referência localizarem ou simplesmente darem abertura às empresas que produzem essas soluções. Naturalmente existem riscos, afinal eles são inerentes a qualquer inovação relevante, mas esses riscos podem ser mitigados com projetos pilotos e por contratos muito bem estruturados.

O ano de 2019 promete, por que não ser a sua a empresa a protagonizar o combate ao burnout médico ao mesmo tempo em que promove o uso racional da tecnologia?

Fonte: LINKEDIN PULSE, ANDRÉ RAMOS. Abuso de tecnologia médica mata e dá prejuízo, mas tem solução. Disponível em: https://www.linkedin.com/pulse/abuso-de-tecnologia-m%C3%A9dica-mata-e-d%C3%A1-preju%C3%ADzo-mas-tem-andr%C3%A9-ramos

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